6.2.08

Padre António Vieira/400 Anos: um homem de todos os tempos

"As comemorações oficiais do quarto centenário do nascimento do padre António Vieira arrancam esta quarta-feira com uma conferência do ensaísta Eduardo Lourenço, intitulada «Do Império do Verbo ao Verbo como Império», e uma alocução do Presidente da República, Cavaco Silva.


A sessão decorrerá a partir das 18:00 na Academia de Ciências de Lisboa, onde o presidente da Comissão Organizadora de 2008 Ano Vieirino, professor Manuel Cândido Pimentel, apresentará o programa das comemorações, que se prolongarão até ao final do ano.
O «Imperador da Língua Portuguesa», como lhe chamou Fernando Pessoa, nasceu em Lisboa no dia 06 de Fevereiro de 1606. Ao longo de 89 anos, o padre António Vieira atravessou sete vezes o oceano Atlântico e percorreu milhares de quilómetros no Brasil, onde faleceu. Missioário e diplomata, é também considerado um percursor da defesa dos direitos humanos.
Deixou uma obra literária composta por 200 sermões, 700 cartas, tratados proféticos e dezenas de escritos filosóficos, teológicos, espirituais, políticos e sociais.
Hoje à tarde, no Centro Cultural de Belém (CCB), cinco escritores (Rodrigo Guedes de Carvalho, António Mega Ferreira, Gonçalo M. Tavares, José Tolentino Mendonça e Armando Baptista-Bastos) vão ler excertos dos seus sermões e à noite, no mesmo local, um concerto da orquestra Divino Sospiro e do Coro Officium, intitulado «Foi-nos um Céu Também».
Ainda em Lisboa, um eléctrico chamado Vieira - um dos que fazem a carreira número 28, entre o Largo de Camões e a Graça - fará a viagem inaugural hoje, às 15:00, com especialistas que falarão aos passageiros sobre a vida e obra daquele jesuíta do século XVII. Trata-se de uma iniciativa do Centro Nacional de Cultura e da Carris, que se estenderá até 12 de Fevereiro, pelo menos.
Em Coimbra, na capela da Universidade, realiza-se um Recital de Órgão e Pregação do «Sermão de Quarta-feira de Cinzas» (este ano o dia 06 de Fevereiro coincide com a quarta-feira de cinzas), promovido pelo Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos e pelo Centro Inter-Universitário de Estudos Camonianos daquela universidade.
Na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, será inaugurada uma exposição iconográfica e bibliográfica do padre António Vieira, coordenada e organizada pelo professor Arnaldo do Espírito Santo, presidente da Comissão Científica de 2008 Ano Veirino.
Assinalando também a efeméride, O jornal Correio da Manhã distribui na sua edição de hoje uma biografia e um volume com os Sermões do Padre António Vieira".



Fonte: Diário Digital / Lusa (06-02-2008 7:11:00 )





A provar que o Padre António Vieira é um homem de todos os tempos, aqui fica um excerto do Sermão de Santo António aos Peixes, pregado em São Luís do Maranhão, em 1654. Que nos sirva de reflexão!

Vos estis sal terrae (MATEUS.5)
Vós, diz Cristo senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra: e chamam-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?
Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem os seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.
Suposto pois, que, ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar, que se há-de fazer a este sal, e que se há-de fazer a esta terra? O que se há-de fazer ao sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et conculcetur ab hominibus. Se o sal perder a substância e a virtude, e o Pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há-de fazer, é lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de todos. Quem se atrevera a dizer tal cousa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça que o pregador que ensina e faz o que deve, assim é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra ou com a vida prega o contrário. Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra que se não deixa salgar, que se lhe há-de fazer?


As comemorações do nascimento do Padre António Vieira também se estendem à Madeira. Hoje, a partir das 20 horas, na Ribeira Seca, em Machico, terá lugar uma conferência proferida pelo professor Nelson Verissímo, organizada pelo Centro Cívico e Cultural daquela localidade.
Agendado está também um conjunto de iniciativas organizadas pelo Secretariado Diocesano da Educação Cristã de Adultos em parceria com o Departamento da Escola Católica que englobam, no dia 29 de Fevereiro, uma conferência que terá lugar na reitoria da Universidade da Madeira (Colégio dos Jesuítas) e, dia 01 de Março, um seminário orientado pelo Professor Doutor José Eduardo Franco.

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